José Joaquim Cesário Verde - biografia / bibliografia

   Vida breve teve Cesário Verde. Nasceu em Lisboa em 25 de Fevereiro de 1855, morreu em Lisboa a 19 de Julho de 1886. Tinha 31 anos, idade absurda para morrer com uma tuberculose, dia 19 de Julho de 1886.
   Considerado um grandioso poeta português, matriculou-se no curso de Letras da Universidade de Lisboa, mas acabou por desistis, optando por trabalhar para a loja de ferragens que seu pai tinha na Rua dos Bacalhoeiros.       
   No entanto, deixou-se levar pela sua paixão à poesia e continuou a escrever poemas, tais como: "Num Bairro Moderno" (1877), "Em Petiz" (1878), "O Sentimento dum Ocidental" (1880), publicado no Diário de Notícias, no Diário da Tarde, no Ocidente, entre outros. A sua obra incide sobre a dicotomia campo / cidade, pois faz várias alusões às condições de vida do povo, dos burgueses, dos "bons trabalhadores. Remete-nos ainda para a vida no campo, a beleza da natureza e a beleza da mulher que é bastante realçada ao logo da sua obra. Cesário Verde divide as mulher em três géneros: a Mulher-Cidade como produto de convenções citadinas, a Mulher-Cidade como uma vítima social, e ainda a Mulher-Campo associada a uma figura frágil, natural, autêntica, mulher anjo e dócil. Cesário Verde para além de naturalista é simultaneamente parnasiano, pois apresenta uma tendência artística que procura a confecção perfeita através da poesia descritiva, Preocupa-se com a perfeição, o rigor formal, a regularidade métrica, estrófica e rimática. Retorna ao racionalismo e às formas poética clássicas. 
  Adoecendo gravemente, fixa-se na quinta da família em Linda-a-Pastora. Foi graças aos esforços do seu amigo Silva Pinto que as suas poesias são postumamente publicadas em volume com o título "O Livro de Cesário Verde" (1887).

Poemas representativos de Cesário Verde:
"Num Bairro Moderno"
"Sentimento dum Ocidental"
"De Tarde"
"Contrariedades"
"Deslumbramentos"
"Nós"

" Pinto quadros por letras, por sinais"
"Eu sou como muitos que estão no meio de um grande ajuntamento de gente e completamente isolados e abstractos. A mim o que me rodeia é o que me preocupa"
Cesário Verde 
 Recursos de Estilo:
-Sinestesia: Fusão de percepções provenientes de diferentes sentidos
-Adjectivação
-Metáfora
-Assindeto: Supressão dos elementos de ligação entre palavras ou frases sucessivas
-Personificação
-Antítese
-Ironia
-Hipálage: Consiste em transferir uma qualidade ou acção de um elemento da frase para outro, por exemplo, do sujeito para o objecto
-Apóstrofe: Consiste na interpelação a alguém, ou a alguma coisa personificada
-Comparação
-Hipérbole
-Perífrase: Consiste em dizer por várias palavras o que poderia ser dito por algumas ou apenas uma
-Anáfora: Repetição da mesma palavra
-Enumeração


O Mito de Anteu

«De acordo com a mitologia grega, Anteu, filho da Gea (Terra) e de Poseidon , era um gigante muito possante, que vivia na região de Marrocos, e que era invencível enquanto estivesse em contacto com a mãe-terra. Desafiava todos os recém-chegados em luta até à morte. Vencidos e mortos, os seus cadáveres passavam a ornar o templo do Deus do mar, Poseidon. Hércules, de passagem pela Líbia, entrou em combate contra Anteu e, descobrindo o segredo da sua invencibilidade, conseguiu esmagá-lo, mantendo-o no ar.»
  Em Cesário Verde, o campo, simboliza a terra, apresenta-se fértil. Quando Cesário verde se encontra a viver afastado da terra da sua infância, como refere no poema Em Petiz, e enfraquecido pela cidade doente, o poeta reencontra as suas energias ao regressar para o campo. Por isso, também, como refere em Nós, desde as epidemias que grassaram em Lisboa, a sua família passou a encontrar no espaço rústico o retempero das suas forças.
  O mito de Anteu permite-nos caracterizar o novo vigor que se manifesta quando há um reencontro com as suas origens, com a mãe-terra. Deste modo, poderemos falar deste mito em Cesário Verde na medida em que o contacto com o campo parece reanimá-lo, dando-lhe forças, energias e saúde. O mito de Anteu surge em Cesário de modo a transmitir o seu esgotamento originado pelo afastamento da terra, do espaço positivo do campo. O que justifica o seu encantamento com o cabaz da pequena vendedeira que lhe traz o campo à cidade, na vitalidade e no colorido saudável dos produtos que lhe permitem recompor um corpo humano, ou seja, que possibilitam renovar as energias:

[...] 
Subitamente - que visão de artista! -Se eu transformasse os simples vegetais, À luz do Sol, o intenso colorista; Num ser humano que se mova e exista Cheio de belas proporções carnais?!
[...]
«Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!» E recebi, naquela despedida, As forças, a alegria, a plenitude, Que brotam dum excesso de virtude Ou duma digestão desconhecida.
[...]
  Neste excerto, Cesário consegue concretizar, pela imaginação, um novo quadro, em que transfigura o real e transforma a rapariga com os vegetais, o que nos permite encontrar novos seres humanos, revigorados, como ele próprio se vai sentir quando a rapariga lhe agradecer ao despedir-se. As marcas do mito de Anteu podem-se descobrir ao receber "As forças, a alegria, a plenitude" não apenas na expressão de despedida, mas também nesta "digestão desconhecida" que o campo lhe trouxe.

Impressionismo

  O Impressionismo foi um movimento artístico surgido na França no século XIX que criou uma nova visão conceitual da natureza utilizando pinceladas soltas dando ênfase na luz e no movimento. Geralmente as telas eram pintadas ao ar livre para que o pintor pudesse capturar melhor as nuances da luz e da natureza.
  
Distingue-se das outras artes pelas seguintes características:
  > arte alegre e vibrante dos impressionistas enche os olhos de cor e luz. 
  > presença dos contrastes, da natureza, transparências luminosas, claridade das cores, sugestão de felicidade e de vida harmoniosa transparecem nas imagens criadas pelos impressionistas.
  > os impressionistas retratam nas suas telas os reflexos e efeitos que a luz do sol produz nas cores da natureza.
  > mostra a graciosidade das pinceladas, a intensidade das cores e a sensibilidade do artista, que em conjunto emocionam quem contempla suas obras.

  Os principais representantes do grupo foram Monet, Manet, Renoir, Degas, Camile Pissaro, Alfred Sisley, Vincent Van Gogh, Cézanne, Caillebotte, Mary Cassatt, Morisot, entre outros.


Claude Monet (1840-1926)
Impression du Soleil Levant - 1873
(Museu Marmottan, Paris)
Quadro de Claude Monet que deu início ao
Movimento Impressionista
Les Alyschamps
Quadro de Claude Monet


Pierre Auguste Renoir (1841-1919)
La Promenade
Quadro de Renoir
Rosa e Azul - 1881
Quadro de Renoir
Museu MASP
Dance at Bougival
Quadro de Renoir
Edouard Manet (1832-1883)
Races at Longchamp
Quadro de Manet
Flores no Vaso de Cristal
Quadro de Manet

Edgard Degas (Pintor impressionista francês - 1834-1917) 
Degas - Dance Foyer at the Opera
Degas - Rehearsal on the Stage










Manias!
O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.
Eu sei um bom rapaz, – hoje uma ossada,
 –Que amava certa dama edantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.  
Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa, 
Na sujeição canina mais submissa
,Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!

    Cesário Verde
Do livro: "Poesias Completas de Cesário Verde"